Volve chover. Por fim! Depois de dois meses de sol. Por primeira vez na minha vida me fui banhar nas águas que batem os cons de Bergantinhos cara ao norte quase entrando já em Outubro. E, (igual é a sensação térmica) bem menos frias do que a finais de Julho e primeiros de Agosto.

Aproveitei os dias de praia para ler. Desfrutar de publicações dos últimos anos e reler também. Algumas obras, de aventuras, inicialmente escritas para um público juvenil. Pepe Carbalhude, O talismã dos druidas; Rafael Lema, O capitam Aranha. São novelas que, eu parece-mo, desfruto muito melhor agora e desde logo recomendo para um público mais experimentado, capaz de entender a ‘literatura séria’. Da que também gosto, claro. Como a de Rosa Aneiros, Resistência, um relato que atende particularmente o terceiro terço do século XX em Portugal, uma novela total, do melhor que li em muito tempo. Ou Bieito Iglesias, histórias pouco pretensiosas, para um público ao melhor muito particular e mais local, com um estilo que chega a um humor excepcional: gostei imenso, não é um humor instalado na narração, em sucessos e peripécias engraçadas de seu (como por exemplo Romaxe de desventuras de Carbalhude que muito me fez rir este verão), não: é converter as frases, a expressão per se, num motivo que desperta o sorriso. Não conheço ninguém, hoje, quem de escrever como o Bieito Iglesias desde a fala galega.

Todas estas novelas estão escritas sem se adaptarem ainda ao Acordo Ortográfico: posso compreender o motivo ainda que, na grande maioria dos casos, sinto bem não poder comparti-las melhor com todos os demais falantes do nosso idioma no mundo, de Carvalho a Lisboa, de Luanda a Aveiro, de Dili a Rio de Janeiro.

E assim, antes de que começara a chover, com sol mas já em Outubro, fui também ao teatro ver uma adaptação de Alice in Wonderland do Teatro de Marionetas do Porto. Vieram amostrar o seu espectáculo a Carvalho de Bergantinhos. Sai tão impressionado que cuido que botei duas horas a falar apenas de teatro e literatura com distintos amigos (e amigas: obrigado a Olga, só o seu nome sei, por me acompanhar a derradeira até as 6:00AM e vir comigo mesmo a uma sessão de música tecno!). Tenho de reler, ler de novo, agora em original, Alice in Wonderland. ‘E Alice no país do espelho!’ disse-me Paula Carbalheira, excelente actriz e escritora, das primeiras pessoas com quem bati ao sair do teatro. Apreciei novos aspectos da obra de Lewis Carrol que nem imaginava.

Satori!’ Pensei, quero dizer senti, várias vezes, movendo-me cara adiante no assento como querendo entrar ainda mais na representação. Essa revelação do momento que a arte -não tão frequentemente- nos dá.

Levo um tempo no que tão bom como a surpresa da novidade e a compreensão do contemporâneo é achar aquilo que já estava ai, pelo que passaste se calhar há muitos ou já faz bem uns anos, ao melhor mais recentemente mas à pressa de mais, sem parares o preciso.

Levo um tempo em que entender é descobrir que naquilo que já conhecias fica ainda tanto, quase tudo, por descobrir.

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